segunda-feira, 30 de junho de 2014

Propriocepção - um sentido pouco conhecido


A maioria das crianças aprende que temos cinco sentidos: visão, audição, olfato, tato e gustação.Há entretanto outros sentidos muito importantes que não estão incluidos nesta lista. Consciência da posição do corpo, ou “propriocepção” é um desses sentidos.




Propriocepção é o sentido que faz com que nosso cérebro desenvolva um mapa interno do corpo de modo que possamos fazer atividades sem precisar monitorar tudo visualmente o tempo todo. A maioria das pessoas ignora a existência desse sentido. Isso é um problema particularmente sério quando ele não funciona bem. Se nem ao menos temos consciência de que o sentido existe, é muito difícil entender problemas relacionados a ele.
Assim como nossos olhos e ouvidos mandam informação sobre o que vemos e ouvimos para o cérebro, partes dos nossos músculos e articulações percebem a posição do nosso corpo e mandam essa informação para o cérebro. Dependemos dessa informação para saber exatamente onde as partes do nosso corpo estão e para planejar movimentos.

Quando o sentido de propriocepção funciona bem, constantemente fazemos ajustes automáticos em nossa posição. Este sentido nos ajuda a manter posição adequada em uma cadeira, segurar utensílios tais como uma caneta ou garfo de maneira adequada, julgar como manobrar no espaço de modo a não bater nas coisas, a que distância temos de estar das pessoas para não ficar perto demais, quanta pressão colocar para evitar quebrar um lápis ou um brinquedo e a mudar as ações que não foram bem sucedidas tais como jogar uma bola em um alvo.


Como a propriocepção nos ajuda com funções tão básicas, um problema nesse sistema pode nos causar bastante dificuldade. O que geralmente acontece é que a criança tem de prestar atenção em coisas que deveriam acontecer automaticamente. Também pode ter de usar visão para “descobrir” como fazer os ajustes. Isso pode necessitar muita energia. A criança pode se sentir desajeitada, frustrada e até sentir medo em algumas situações. Por exemplo, pode ser muito assustador descer escadas se você não sabe onde estão os seus pés. 



O sistema proprioceptivo é ativado através de atividades de puxar/empurrar, pular e atividades que envolvem peso e pressão firme ou toque profundo.



Estes são alguns exemplos de atividades proprioceptivas. Elas podem ser úteis para ajudar seu filho a se conscientizar mais da posição de seu corpo e se tornar mais calmo e organizado.



* Deixe a criança ajudar em “trabalho pesado” tal como carregar compras, carregar a cesta de roupa suja, levar o lixo para fora.

* Brinque de “acampar” e ponha saquinhos de arroz e feijão na mochila da criança. Finja que está subindo montanhas e pulando de rochas no parque ou no quintal.
* Faça um “sanduiche” de seu filho entre as almofadas do sofá. Adicione pressão fingindo por pickles, maionese.
* Faça com que a criança feche os olhos e sinta onde estão suas pernas, mãos, etc. Pergunte se estão para cima ou para baixo. Tente fazer com que assuma várias posições sem olhar, tal como rolar-se como uma bola, tocar seu nariz, fazer um círculo com seus braços e fazer um X com braços e pernas.
* Faça uma massagem suave mas firme.


Johanna Melo Franco - Terapeuta Ocupacional

domingo, 8 de junho de 2014

O Ambiente Escolar para Crianças com Transtorno no Processamento Sensorial

Mudanças de ambiente, barulho, movimento das outras crianças, toques inesperados dos amigos podem sobrecarregar sensorialmente a criança com Transtorno Processamento Sensorial (TPS). Transtorno do processamento sensorial acontece quando as informações sensoriais do ambiente e de dentro de nossos próprios corpos não se organizado e interpretado corretamente e de forma eficiente pelo cérebro.

Dificuldade de entrar na sala de aula:
- Não gosta que sua mão seja guiada;
- Evita contato físico (beijo, abraços);
- Incomoda-se com esbarrões dos colegas;
-Assusta-se com barulho proveniente dos colegas arrumando o material, sentando e guardando a mochila...

Estratégias:
1. Ser o primeiro ou o último a entrar na sala de aula;
2. Evitar muitos toques, principalmente leves;
3. Estabelecer a rotina para acesso a sala de aula;

Sala de Aula
1. Diminuição de ruídos externos/internos;
2. Não sobrecarregar verbalmente o aluno. Frases curtas e simples;
3. Planejamento das atividades para diminuir materiais desnecessários;
4. Ajudar o aluno a manter suas carteiras organizadas pode ajudá-los não se distrair visualmente
5. Rotina nas atividades (apoio visual). Painel com fotos das atividades.
Lembrar: salas com grande intensidade de estímulos visuais e auditivos proporcionam distrações e assim uma maior dificuldade no aprendizado e concentração.

Hora do Lanche
1. Ambiente mais calmo;
2. Evita iluminação direta;
3. Abaixe o tom de sua voz;
4. Deixe ambiente visualmente mais limpo possível;
5. Os alimentos preferidos da criança; favorecendo uma maior interesse e aceitação.

Recreio
1. Respeitar as necessidades sensoriais da criança
2. Proporcionar cantos com brinquedos que as crianças possam escolher
3. Trabalhar com pequenos grupos em atividades diferentes proporcionando a escolha do grupo e ou atividade
4. Oferecer espaços e atividades que a criança possa brincar em grupos,com um ou dois amigos ou mesmo ficar sozinha.

Saída da Sala
1. Painel da Rotina e explicar para criança o que vai ocorrer (auditiva e visual);
2. Diminuir a chance de comportamento negativo eliminando os estímulos aversivos ( toques e barulho);
3. Deixar a criança carregar a sua mochila nas costas;
4. A criança pode ser a primeira ou a última a deixar a sala de aula.

Outras dicas de modificações e estratégias para ambiente da escola para crianças com TPS. Para as atividades em sala de aula:
1. Organizar o materiais em caixas ou pastas (pistas visuais);
2. Antecipar e sistematizar tarefas apresentadas;
3. Rotina nas atividades;
4. Informações das atividades podem ser auditivas e/ou visuais;
5. Não force contato visual, a criança pode estar compreendendo mesmo que não esteja olhando;
6. Criar situações diferentes para apresentar o mesmo conteúdo, usar recursos visuais, auditivos, táteis, movimento para explorar a mesma atividade;
7. Possibilitar mudanças de posição ou uso de assento diferenciado ao longo do período;
8. Para atividades táteis pode utilizar recursos como pincéis, luvas e rolos possibilitam que a criança a escolha de tocar ou não em determinadas texturas e consistências;
9. Introduzir um estimulo tátil de cada vez (massinha, tinta, areia ou colagem);

Quando diminuímos todos os estímulos, a aceitação do estimulo aversivo pode ser melhor.

A maioria das escolas exigem que o aluno fique quieto, parado e preste atenção na fala do professor por períodos cada vez mais longos à medida que amadurecem. Isso não é fácil para muitas crianças. A sala de aula muitas vezes pode ser um ambiente desafiador para uma criança. Os professores podem melhorar o conforto desses alunos e comportamento através do uso de atividades de integração sensorial. As atividades visam melhorar a capacidade da criança de se concentrar, manter a calma e ficar quieto. 

Fonte: Aline Momo e Claudia Silvestre -Artevidade

terça-feira, 3 de junho de 2014

Programa Son Rise para Autistas

O programa Son Rise surgiu nos Estados Unidos, na década de 70, quando Barry e Samahria Kaufman receberam o diagnóstico do filho Raun como autismo severo, sem esperança de recuperação. Eles não ficaram satisfeitos com o que ouviram dos médicos, e  decidiram procurar alguma forma de ajudar o filho. A partir desta procura, surgiu o método Son Rise.

Frequentemente, quando pais recebem o diagnóstico de autismo para a sua criança, também é oferecido a eles uma perspectiva cheia de pessimismo e a sugestão para que se conformem a uma condição trágica e irreversível da criança. O trabalho com abordagens educacionais relacionais, algumas abordagens biomédicas do autismo e a atual neurociência mostra que esta não precisa ser a única perspectiva a ser adotada. Os cérebros das pessoas com autismo apresentam grande plasticidade. Isto significa que os cérebros destas pessoas aprendem, se desenvolvem e podem ser modificados por cada experiência vivida – assim como qualquer cérebro. Ao oferecermos um ambiente de aprendizado otimizado, nós podemos ajudá-las a reconstruir os seus cérebros e aprender a superar os desafios relativos a habilidades sociais e de comunicação típicos do autismo.

A perspectiva tradicional vê o autismo como uma desordem comportamental. Como conseqüência deste pensamento, as abordagens costumam focar na mudança do comportamento, tentando eliminar os chamados comportamentos atípicos. O Son Rise vê o autismo como o desenvolvimento resultante de um sistema neurobiológico programado para operar de forma diferente. A conseqüência desta nova forma de pensar o autismo é a terapia que busca oferecer um ambiente físico e social que leve em conta esta diferença biológica e que promova o aprendizado e o bem-estar de cada criança ou adulto. 

O Programa Son-Rise é lúdico. A ênfase está na diversão. Isto significa que os pais, facilitadores e voluntários seguem os interesses da criança e oferecem atividades divertidas e motivadoras nas quais a criança esteja empolgada para participar. O mesmo aplica-se para o trabalho com um adulto. As atividades são adaptadas para serem motivadoras e apropriadas ao estágio de desenvolvimento específico do indivíduo, qualquer que seja sua idade. Uma vez que a pessoa com autismo esteja motivada para interagir com um adulto, este adulto facilitador poderá então criar interações que a ajudarão a aprender todas as habilidades do desenvolvimento que são aprendidas através de interações dinâmicas com outras pessoas (por exemplo, o contato “olho no olho”, as habilidades de linguagem e de conversação, o brincar, a imaginação, a criatividade, as sutilezas do relacionamento humano). O Programa Son-Rise apresenta uma abordagem altamente inovadora e dinâmica ao tratamento do autismo e outras dificuldades de desenvolvimento similares (como a síndrome de Asperger, por exemplo) – uma abordagem relacional. Não é um conjunto de técnicas e estratégias a serem utilizadas com uma criança. É um estilo de se interagir, uma maneira de se relacionar com uma criança que inspira a participação espontânea em relacionamentos sociais. Instrui os pais na criação destas efetivas interações com a criança ou adulto de forma que eles possam dirigir o programa de seus filhos e ajudá-los durante todas as interações diárias com eles. Os pais aprendem a interagir de forma prazerosa, divertida e entusiasmada com a criança, encorajando então altos níveis de desenvolvimento social, emocional e cognitivo. 

Profissionais de abordagens relacionais como a do Programa Son Rise têm visto durante as últimas três décadas que a aceitação e apreciação das atividades e interesses da criança auxilia na construção de uma ponte que pode levar à interação social com uma criança com autismo. Através da interação social, muitas outras habilidades podem ser aprendidas pela criança. Atuais estudos científicos demonstram o valor desta abordagem (Dawson & Galpert, 1990; Kim & Mahoney, 2004; Mahoney & Perales, 2005 e Trivette, 2003). 

O Programa Son-Rise é centrado na pessoa com autismo. Isto significa que o tratamento parte do desenvolvimento inicial de uma profunda compreensão e genuína apreciação da pessoa, de como ela se comporta, interage e se comunica, assim como de seus interesses. O Programa Son-Rise descreve isto como o “ir até o mundo da pessoa com autismo”, buscando fazer a ponte entre o mundo convencional e o mundo desta pessoa em especial. Com esta atitude, o adulto facilitador vê a pessoa como um ser único e maravilhoso, não como alguém que precisa “ser consertado”, e pergunta-se “como eu posso me relacionar e me comunicar melhor com essa pessoa?” Quando a pessoa com autismo sente-se segura e aceita por este adulto, a sua receptividade ao convite para interação que o adulto venha a fazer é maior. 

O Programa Son-Rise oferece uma abordagem prática e abrangente para inspirar a pessoa com autismo a participar espontaneamente de interações divertidas e dinâmicas com outras pessoas, tornando-se aberta, receptiva e motivada para aprender novas habilidades e informações. A participação da pessoa nestas interações é então fator chave para o tratamento e recuperação do autismo. E o papel dos pais é essencial neste processo de tratamento. 

A participação espontânea da criança em interações dinâmicas, envolventes e estimulantes é fator chave para o tratamento e recuperação do autismo. 

Ao adotarmos uma atitude brincalhona, apaixonada e confortável, nós inspiramos as crianças a se sentirem motivadas para se conectarem conosco. Elas sentem-se então inspiradas para brincar, aprender e superar seus desafios. 

Crianças com autismo, assim como qualquer criança, respondem positivamente a pessoas que se sentem confortáveis e entusiasmadas em relação a elas. Quando nos colocamos nesta atitude, a probabilidade das crianças se abrirem e quererem se conectar conosco é maior. As crianças com autismo querem aprender e brincar como quaisquer outras crianças, mas encontram nisso grande dificuldade devido à forma como seus cérebros são estruturados.