O
programa Son Rise surgiu nos Estados Unidos, na década de 70, quando Barry e
Samahria Kaufman receberam o diagnóstico do filho Raun como autismo severo, sem
esperança de recuperação. Eles não ficaram satisfeitos com o que ouviram dos
médicos, e decidiram procurar alguma forma de ajudar o filho. A partir
desta procura, surgiu o método Son Rise.
Frequentemente,
quando pais recebem o diagnóstico de autismo para a sua criança, também é
oferecido a eles uma perspectiva cheia de pessimismo e a sugestão para que se
conformem a uma condição trágica e irreversível da criança. O trabalho com
abordagens educacionais relacionais, algumas abordagens biomédicas do autismo e
a atual neurociência mostra que esta não precisa ser a única perspectiva a ser
adotada. Os cérebros das pessoas com autismo apresentam grande plasticidade.
Isto significa que os cérebros destas pessoas aprendem, se desenvolvem e podem
ser modificados por cada experiência vivida – assim como qualquer cérebro. Ao
oferecermos um ambiente de aprendizado otimizado, nós podemos ajudá-las a
reconstruir os seus cérebros e aprender a superar os desafios relativos a
habilidades sociais e de comunicação típicos do autismo.
A
perspectiva tradicional vê o autismo como uma desordem comportamental. Como
conseqüência deste pensamento, as abordagens costumam focar na mudança do
comportamento, tentando eliminar os chamados comportamentos atípicos. O Son
Rise vê o autismo como o desenvolvimento resultante de um sistema
neurobiológico programado para operar de forma diferente. A conseqüência desta
nova forma de pensar o autismo é a terapia que busca oferecer um ambiente
físico e social que leve em conta esta diferença biológica e que promova o
aprendizado e o bem-estar de cada criança ou adulto.
O
Programa Son-Rise é lúdico. A ênfase está na diversão. Isto significa que os
pais, facilitadores e voluntários seguem os interesses da criança e oferecem
atividades divertidas e motivadoras nas quais a criança esteja empolgada para
participar. O mesmo aplica-se para o trabalho com um adulto. As atividades são
adaptadas para serem motivadoras e apropriadas ao estágio de desenvolvimento
específico do indivíduo, qualquer que seja sua idade. Uma vez que a pessoa com
autismo esteja motivada para interagir com um adulto, este adulto facilitador
poderá então criar interações que a ajudarão a aprender todas as habilidades do
desenvolvimento que são aprendidas através de interações dinâmicas com outras
pessoas (por exemplo, o contato “olho no olho”, as habilidades de linguagem e
de conversação, o brincar, a imaginação, a criatividade, as sutilezas do
relacionamento humano). O Programa Son-Rise apresenta uma abordagem altamente
inovadora e dinâmica ao tratamento do autismo e outras dificuldades de
desenvolvimento similares (como a síndrome de Asperger, por exemplo) – uma
abordagem relacional. Não é um conjunto de técnicas e estratégias a serem
utilizadas com uma criança. É um estilo de se interagir, uma maneira de se
relacionar com uma criança que inspira a participação espontânea em
relacionamentos sociais. Instrui os pais na criação destas efetivas interações
com a criança ou adulto de forma que eles possam dirigir o programa de seus
filhos e ajudá-los durante todas as interações diárias com eles. Os pais
aprendem a interagir de forma prazerosa, divertida e entusiasmada com a
criança, encorajando então altos níveis de desenvolvimento social, emocional e
cognitivo.
Profissionais
de abordagens relacionais como a do Programa Son Rise têm visto durante as
últimas três décadas que a aceitação e apreciação das atividades e interesses
da criança auxilia na construção de uma ponte que pode levar à interação social
com uma criança com autismo. Através da interação social, muitas outras
habilidades podem ser aprendidas pela criança. Atuais estudos científicos
demonstram o valor desta abordagem (Dawson & Galpert, 1990; Kim &
Mahoney, 2004; Mahoney & Perales, 2005 e Trivette, 2003).
O
Programa Son-Rise é centrado na pessoa com autismo. Isto significa que o
tratamento parte do desenvolvimento inicial de uma profunda compreensão e
genuína apreciação da pessoa, de como ela se comporta, interage e se comunica,
assim como de seus interesses. O Programa Son-Rise descreve isto como o “ir até
o mundo da pessoa com autismo”, buscando fazer a ponte entre o mundo
convencional e o mundo desta pessoa em especial. Com esta atitude, o adulto
facilitador vê a pessoa como um ser único e maravilhoso, não como alguém que precisa
“ser consertado”, e pergunta-se “como eu posso me relacionar e me comunicar
melhor com essa pessoa?” Quando a pessoa com autismo sente-se segura e aceita
por este adulto, a sua receptividade ao convite para interação que o adulto
venha a fazer é maior.
O
Programa Son-Rise oferece uma abordagem prática e abrangente para inspirar a
pessoa com autismo a participar espontaneamente de interações divertidas e
dinâmicas com outras pessoas, tornando-se aberta, receptiva e motivada para
aprender novas habilidades e informações. A participação da pessoa nestas
interações é então fator chave para o tratamento e recuperação do autismo. E o
papel dos pais é essencial neste processo de tratamento.
A
participação espontânea da criança em interações dinâmicas, envolventes e
estimulantes é fator chave para o tratamento e recuperação do autismo.
Ao
adotarmos uma atitude brincalhona, apaixonada e confortável, nós inspiramos as
crianças a se sentirem motivadas para se conectarem conosco. Elas sentem-se
então inspiradas para brincar, aprender e superar seus desafios.
Crianças
com autismo, assim como qualquer criança, respondem positivamente a pessoas que
se sentem confortáveis e entusiasmadas em relação a elas. Quando nos colocamos
nesta atitude, a probabilidade das crianças se abrirem e quererem se conectar
conosco é maior. As crianças com autismo querem aprender e brincar como
quaisquer outras crianças, mas encontram nisso grande dificuldade devido à
forma como seus cérebros são estruturados.
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